Conheça No Game No Life, um anime escrito por um brasileiro que dá um show de referências a jogos e representam o sonho de qualquer gamer.
Não é somente meu colega redator e amigo Jameson Sheen que gosta de animes. Tudo bem que ele monopolizou por algum tempo textos tendo como base as animações japonesas, mas nessa temporada chegou um anime que eu simplesmente não conseguiria me perdoar se deixasse passar a oportunidade de escrever sobre. O motivo? Bem, imaginem se você caísse em um mundo onde toda a ordem é regida por jogos. Pois é, seja bem-vindo ao universo de No Game No Life, o sonho de qualquer gamer e uma grande homenagem a indústria dos jogos.
Antes de explicar o porquê deste desenho ser essa homenagem, é preciso explicar um pouco sobre a trama, começando pelos protagonistas. No universo dos jogos online, existe a lenda de um grupo de quatro jogadores que vencem todos os desafios. Eles aparecem, superam qualquer limite e desaparecem. O curioso é que esses jogadores possuem como nome apenas um espaço vazio,『 』, e por este motivo ficaram conhecidos como "Kuuhaku" ("espaço em branco" em japonês).
Agora, e se eu disser que estes quatro jogadores são, na verdade, duas pessoas? Este grupo é regido por um casal de irmãos, Shiro e Sora. A primeira é uma mocinha de onze anos, extremamente calculista e mestra em estratégias frias. Já o segundo é um rapaz de dezoito anos, experiente na malandragem humana e um excelente jogador de pessoas. Juntos eles formam o jogador perfeito, e ninguém pode derrubá-los uma vez que joguem a sério.
1. Todos os assassinatos, guerras e saqueamentos são proibidos neste mundo;
2. Todos os conflitos neste mundo serão resolvidos através de jogos;
3. Nos jogos, cada jogador deverá apostar algo em que ambos julguem de igual valor;
4. Contanto que não vá contra o terceiro mandamento, as apostas e regras não deverão ser questionadas;
5. O desafiado tem o direito de escolher o jogo e suas regras;
6. Qualquer aposta feita sobre os julgamentos deve ser mantida;
7. Conflitos entre grupos serão resolvidos entre jogadores representantes designados com autoridade absoluta;
8. Ser pego trapaceando durante um jogo causará perda instantânea;
9. Pelo nome de Deus, as regras anteriores nunca devem ser alteradas;
10. Vamos todos nos divertir e jogar juntos!
Com pleno conhecimento dos mandamentos regentes ao iniciar uma partida, ambos os lados devem declarar “Aschente”, que significa “eu juro sob os mandamentos”, garantindo total integridade dos jogadores. É desta forma que todos os conflitos sociais e territoriais são resolvidos, sejam eles entre humanos ou entre outra raças. Ah é, como estamos falando de um mundo de jogos, era óbvio que teríamos diversas raças.
É conhecido por Exceed o grupo das 16 raças que regem o mundo de Disboard. Nem todas são conhecidas ainda, mas é sabido que elas são classificadas pelo seu domínio de magia e dos jogos e que a humanidade (ou Imanity, como é conhecida nessa terra) está em último lugar. Nessa situação tão desfavorável, fica nas mãos de Kuuhaku conseguir fazer uma diferença neste mundo e mostrar porque esses irmãos nunca perdem um jogo.
“Mas onde começa a parte da homenagem aos jogos?” você deve estar se perguntando. Ela começa agora.
No quinto episódio, em uma explicação que Sora dá sobre probabilidades usando um baralho como referência, é possível ouvir ao fundo a música de Mario Party. No sexto, durante a prévia do episódio seguinte, temos uma referência a The Elder Scrolls V: Skyrim quando se escuta Sora dizendo que “já fui um gamer como você, até que levei uma flechada no joelho”. A ameaça na prévia do oitavo episódio no final do sétimo, dizendo que “sua cabeça ficaria linda espetada em uma estaca”, já se refere a Civilization IV. A série não poupa em mostrar certo apelo aos gamers.
E isso que só estamos levando em consideração jogos digitais e deixando outros fatores da cultura pop de lado. Durante uma partida que Kuuhaku participa, aparece um gorila azul com um anel dourado em mãos, uma referência ao meme “Dankey Kong”. Diversas vezes os personagens assumem o estilo de traço de JoJo’s Bizarre Adventure, inclusive proferindo o icônico “WRYYY” de Dio Brando. Céus, até Yu-Gi-Oh dá as caras em uma das cenas do oitavo episódio, e ainda temos muito pela frente! Fica evidente o carinho que o autor teve ao reunir esse acervo de referências que por vezes fica evidente, e outras se esconde nos detalhes.
Ver o mundo pelos olhos de Sora e Shiro é algo que imediatamente remete a própria experiência de todo gamer. Muitos de nós extravasam nos jogos algumas de suas frustrações quanto ao mundo real, como ser isolado por colegas de classe ou pela sociedade em si por suas diferenças. Se for ver a vida como um jogo, a descrição não vai fugir muito da que foi dada por Sora:
“Não há como saber as regras ou o objetivo. Há sete bilhões de jogadores fazendo os movimentos que bem entendem. Há punição por ganhar demais ou perder demais. Você não pode passar turnos e, se falar demais, não gostarão de você. Não há parâmetros nem como saber qual o gênero. Esse mundo é um jogo ruim.”
Neste ponto, os protagonistas irem para Disboard parece uma analogia a quando um de nós compra ou ganha um jogo novo que esperávamos há muito tempo. É cair de cabeça em um mundo completamente novo e inexplorado, com experiências que podem afiar alguns de nossos talentos que passam despercebidos pela maioria. As cores vibrantes do anime ainda remetem ao brilho do digital, mas isso se refere tanto aos videogames quanto a qualquer outro jogo, como um RPG de mesa.
Quem nunca sonhou em viver as aventuras de um protagonista de algum jogo? Quem nunca achou que sua vida era monótona demais e desejou uma aventura da forma mais épica? No Game No Life incorpora esses desejos e dá vida ao sonho de entrar em um jogo infinito da melhor forma possível, que é onde todos podem ter diversão igualmente e não é preciso violência ou truculência para se resolver seus problemas.
Agora, se está procurando a pior forma, assista Sword Art Online. Seus sonhos de jogos em realidade virtual podem ir por água abaixo ao se imaginar refém de um jogo no sentido ruim da palavra. Não que o anime seja ruim, muito pelo contrário, mas a situação que os personagens se situam não é muito agradável.
Sendo lançado um episódio novo toda terça-feira, No Game No Life continua encantando milhares de fãs ao redor do mundo. Por enquanto temos apenas oito episódios lançados, mas a cada experiência que passa desejamos um pouco mais dessa odisseia dos jogos, cada vez mostrando mais uma vertente dessa história de superação e como os males da humanidade podem ser, muitas vezes, a sua maior força.
Se tiver um tempo livre, vale a pena dar uma procurada nessa trama incrível escrita por um brasileiro genial. Episódio após episódio, No Game No Life incorpora e transmite com maestria a mensagem que todos os gamers já sabiam e queriam que o mundo inteiro pudesse entender: para muitos de nós, jogadores, jogos são muito mais do que apenas um hobby. Eles são parte de nossas vidas.
Atenção: o artigo à seguir contem pequenas revelações sobre o enredo (spoilers). Nada que atrapalhe a apreciação do anime. Leia por sua conta e risco!
A lenda de Kuuhaku
Eles contrastam bem em inteligência e malandragem. |
Agora, e se eu disser que estes quatro jogadores são, na verdade, duas pessoas? Este grupo é regido por um casal de irmãos, Shiro e Sora. A primeira é uma mocinha de onze anos, extremamente calculista e mestra em estratégias frias. Já o segundo é um rapaz de dezoito anos, experiente na malandragem humana e um excelente jogador de pessoas. Juntos eles formam o jogador perfeito, e ninguém pode derrubá-los uma vez que joguem a sério.
Céu em branco: há uma pequena brincadeira com os nomes dos personagens com o título Kuuhaku, mas isso só é perceptível quando se lê em kanji. O símbolo para Sora (que significa “céu”) é 空, e o para Shiro (que significa “branco”) é 白. Já para formar “espaço em branco” ou “espaço vazio” é a união dos dois, 空白. Isso basicamente define Kuuhaku: a união de Sora e Shiro.Isso acabou chamando a atenção de um alguém misterioso, que entrou em contato com eles através de um e-mail onde comentava como eles pareciam deslocados de seu próprio mundo (no caso, o nosso). Nisso esse alguém oferece uma chance de ir para um mundo que os aceite melhor, contanto que Kuuhaku o vencesse em uma partida de xadrez. Claramente, venceu. E foi aqui que as coisas começaram a ficar estranhas.
Lutando por Imanity
Aquele alguém misterioso revelou-se como Tet, o deus do mundo de Disboard, em outra dimensão, onde todas as leis são regidas por jogos. Nesta terra curiosa, não há guerra ou violência, já que todos os conflitos são resolvidos em partidas organizadas pelas duas partes do problema. Para garantir a ordem, dez mandamentos foram elaborados e devem ser seguidos à risca:1. Todos os assassinatos, guerras e saqueamentos são proibidos neste mundo;
2. Todos os conflitos neste mundo serão resolvidos através de jogos;
3. Nos jogos, cada jogador deverá apostar algo em que ambos julguem de igual valor;
4. Contanto que não vá contra o terceiro mandamento, as apostas e regras não deverão ser questionadas;
5. O desafiado tem o direito de escolher o jogo e suas regras;
6. Qualquer aposta feita sobre os julgamentos deve ser mantida;
7. Conflitos entre grupos serão resolvidos entre jogadores representantes designados com autoridade absoluta;
8. Ser pego trapaceando durante um jogo causará perda instantânea;
9. Pelo nome de Deus, as regras anteriores nunca devem ser alteradas;
10. Vamos todos nos divertir e jogar juntos!
Com pleno conhecimento dos mandamentos regentes ao iniciar uma partida, ambos os lados devem declarar “Aschente”, que significa “eu juro sob os mandamentos”, garantindo total integridade dos jogadores. É desta forma que todos os conflitos sociais e territoriais são resolvidos, sejam eles entre humanos ou entre outra raças. Ah é, como estamos falando de um mundo de jogos, era óbvio que teríamos diversas raças.
Os Elfs estão na sétima classificação dos Exceed. |
“Mas onde começa a parte da homenagem aos jogos?” você deve estar se perguntando. Ela começa agora.
Referências para dar e vender
No Game No Life tem forte inspiração não somente em jogos reais como também em diversos animes clássicos. Não é incomum a cena estar focada em determinado problema da trama e, completamente do nada, surgir uma referência a algum outro item da cultura pop. Logo no terceiro episódio temos Sora e Shiro entrando em uma corte berrando “Objection!” com a música de Phoenix Wright ao fundo, e isso era apenas uma prévia do que ainda veríamos por aí.No quinto episódio, em uma explicação que Sora dá sobre probabilidades usando um baralho como referência, é possível ouvir ao fundo a música de Mario Party. No sexto, durante a prévia do episódio seguinte, temos uma referência a The Elder Scrolls V: Skyrim quando se escuta Sora dizendo que “já fui um gamer como você, até que levei uma flechada no joelho”. A ameaça na prévia do oitavo episódio no final do sétimo, dizendo que “sua cabeça ficaria linda espetada em uma estaca”, já se refere a Civilization IV. A série não poupa em mostrar certo apelo aos gamers.
Shiro usa até um disco de duelo! |
Até os efeitos sonoros por escrito de JoJo marcam presença. |
Orgulho nacional: o autor de No Game No Life assina pela alcunha de Yuu Kamiya, mas este não é seu nome verdadeiro. O responsável por essa obra-prima se chama Thiago Lucas Furukawa, um brasileiro que resolveu se aventurar no mercado de mangás! Nascido em Uberaba, MG, Thiago foi ainda criança para o Japão e lá conseguiu firmar sua carreira. Além da light novel No Game No Life, também publicou os mangás Earth, Greed Packet Unlimited e Itsuka Tenma no Kuro Usagi. Se você tem esperanças de entrar nessa área, Thiago prova que esse sonho é possível.Mas apesar de todas essas referências, o verdadeiro charme de No Game No Life não está tão na cara assim, é algo muito mais subjetivo, é algo que faz com que o público se identifique com a série. É uma questão de perspectiva.
Esse mundo é um jogo ruim
A princesa Steph sofre nas mãos dos irmãos. |
“Não há como saber as regras ou o objetivo. Há sete bilhões de jogadores fazendo os movimentos que bem entendem. Há punição por ganhar demais ou perder demais. Você não pode passar turnos e, se falar demais, não gostarão de você. Não há parâmetros nem como saber qual o gênero. Esse mundo é um jogo ruim.”
Neste ponto, os protagonistas irem para Disboard parece uma analogia a quando um de nós compra ou ganha um jogo novo que esperávamos há muito tempo. É cair de cabeça em um mundo completamente novo e inexplorado, com experiências que podem afiar alguns de nossos talentos que passam despercebidos pela maioria. As cores vibrantes do anime ainda remetem ao brilho do digital, mas isso se refere tanto aos videogames quanto a qualquer outro jogo, como um RPG de mesa.
Tet é um deus muito inusitado. |
Agora, se está procurando a pior forma, assista Sword Art Online. Seus sonhos de jogos em realidade virtual podem ir por água abaixo ao se imaginar refém de um jogo no sentido ruim da palavra. Não que o anime seja ruim, muito pelo contrário, mas a situação que os personagens se situam não é muito agradável.
Kirito não curtiu isso. Espera, esse gif é de Sword Art Online! Vamos voltar ao foco. |
Aschente!
E o lindo traço é só um bônus! |
Se tiver um tempo livre, vale a pena dar uma procurada nessa trama incrível escrita por um brasileiro genial. Episódio após episódio, No Game No Life incorpora e transmite com maestria a mensagem que todos os gamers já sabiam e queriam que o mundo inteiro pudesse entender: para muitos de nós, jogadores, jogos são muito mais do que apenas um hobby. Eles são parte de nossas vidas.
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